Yuval Harari: “Com o ataque, o Hamas desejava matar qualquer chance de paz”

Em conversa com o apresentador Luciano Huck publicada em O Globo, o historiador e filósofo Yuval Harari falou sobre o ataque terrorista de 7 de outubro: “O que impressiona neste ataque não foram apenas as atrocidades que o Hamas cometeu, mas o fato de que (os terroristas) pretendiam que tais atrocidades fossem divulgadas, inclusive transportando câmeras e fazendo fotos e vídeos. E você tenta pensar “por quê?”. As pessoas cometem atrocidades em diferentes lugares do mundo, mas geralmente tentam escondê-las. Já o Hamas, na verdade, quis divulgá-las. E a razão é que o Hamas não desejava apenas matar civis. O grupo desejava matar qualquer chance de paz. E não apenas agora, mas nas futuras gerações, para realmente espalhar a semente do ódio nas mentes de milhões de pessoas”.

“Para compreender isso, também é importante compreender o grande contexto geopolítico. Por que agora? Por que no dia 7 de outubro? A razão é que Israel e a Arábia Saudita estavam prestes a assinar um tratado de paz histórico, que deveria normalizar as relações entre Israel e a maior parte do mundo árabe e também reiniciar o processo de paz entre Israel e Palestina, oferecendo algumas concessões imediatas que teriam aliviado o sofrimento dos palestinos com a ocupação israelense. Isso era uma enorme ameaça para o Hamas e para o Irã, que se opunham a qualquer tentativa de paz na região. E foi por isso que o Hamas atacou. É vital compreender isso. Ouço muitas pessoas em diferentes países, no Brasil, nos EUA, na Grã-Bretanha, que falam sobre os direitos dos palestinos e a necessidade de libertar a Palestina. Eu concordo plenamente. Há anos que sou um crítico veemente de Netanyahu, por não ter feito nenhum esforço para chegar a um tratado de paz com os palestinos. Mas o que as pessoas precisam compreender é que o Hamas não pretende fazer nenhum tipo de concessão para que israelenses e palestinos vivam lado a lado. Seu objetivo é destruir todas as possibilidades de paz, agora e no futuro”.

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