Jacques Ribemboim lança livro sobre a presença dos judeus em Pernambuco

“História dos Judeus de Pernambuco”, da Cepe Editora, foi lançado na Academia Pernambucana de Letras.

A história dos judeus em Pernambuco se entrelaça com a própria história do lugar. Há registros desta relação desde os primeiros anos do ciclo comercial do pau-brasil, no século XVI, até décadas recentes. Diante de um período tão largo, o desafio seria escrever uma obra que retratasse os mais de cinco séculos desta presença.

Em 608 páginas, a obra reproduz ilustrações, mapas, fotografias, selos e documentos de diversas épocas, e traz, principalmente, histórias de homens e mulheres que cruzaram o Atlântico em busca de uma vida nova. A maioria deles enfrentou o mar para fugir da perseguição religiosa na Europa.

Para contar a História dos Judeus de Pernambuco, o autor optou por estruturá-la em ciclos. Ao todo, seis. O primeiro é o Ciclo da madeira judaica (1502-1535), quando prevalece a exploração do pau-brasil. Depois vem o Criptojudaísmo olindense (1535-1630), período em que a prática religiosa se dava secretamente em virtude das perseguições, o Judaísmo holandês (1630 e 1654), com a vinda de sefarditas holandeses, o Hiato do Judaísmo (1654-1910), no qual o exercício comunitário da religião se restringiu a núcleos paraibanos, o Judaísmo contemporâneo (1910-2000), marcado pela chegada dos imigrantes da Europa Oriental. Por fim, desde 2000, as Novas Tendências (desde 2000), com o judaísmo reformista, a presença das mulheres na liturgia religiosa e o fortalecimento do marranismo.

Ao analisar a cronologia, Ribemboim fala em dois apogeus da presença judaica em Pernambuco. O primeiro ocorreu durante o Judaísmo holandês e o segundo no Judaísmo contemporâneo. Quanto ao primeiro, o autor relata que a expulsão dos holandeses, em 1854, levou os judeus e cristãos-novos que decidiram permanecer no Brasil a se embrenhar pouco a pouco no interior nordestino. Para sobreviver, montaram pequenos negócios, criaram gado e procuraram se manter distante da Inquisição. “É desses cristãos-novos que descendem numerosas famílias tradicionais pernambucanas, paraibanas, alagoanas, potiguares, sergipanas, cearenses, piauienses, gente espalhada por todo o Nordeste”, conclui.

Ainda sobre as heranças advindas dos judeus, o autor ressalta que os primeiros israelitas a desembarcarem em Pernambuco, procedentes da Península Ibérica, “eram morenos claros, bem diferentes do estereótipo agalegado que muitas vezes lhes é atribuído no Brasil de hoje, em resposta a uma imigração mais recente, de asquenazes leste-europeus, vindos de regiões onde subgrupos semitas de fato se apresentam louros ou de olhos azuis, em decorrência da miscigenação com povos locais”.

Para chegar à estrutura final do livro, Ribemboim fez uma pesquisa pormenorizada sobre o assunto. Foram quase 220 livros, capítulos de livros, artigos científicos, artigos e entrevistas publicados em jornais e revistas, além de cerca de 200 fotografias e reproduções de mapas, quadros, gravuras, selos, páginas de livros e documentos. Outro dado que indica a extensão da obra é o índice onomástico, que tem quase 1.600 nomes de pessoas, famílias e autores catalogados. A título de curiosidade, Branca Dias e Maurício de Nassau são os personagens mais citados na obra. Ela, 41 vezes. Ele, 33.