Sugestão de leitura: “Vozes do Holocausto”

Este volume 5 do livro “Vozes do Holocausto” (Editora Maayanot), organizado pelas professoras Maria Luiza Tucci Carneiro e Rachel Mizrachi, conta a história de imigrantes judeus, sobreviventes do Holocausto que vieram para o Brasil.

O livro possui três partes:
1) Refugiados e sobreviventes – com oito histórias distintas, oriundas de cinco países: Alemanha, Itália, Iugoslávia, Polônia e Romênia.
2) Movimentos de Resistência – duas histórias
3) Justos e Salvadores – uma história

PREFÁCIO DE Y. DAVID WEITMAN
O Holocausto, pelo seu caráter único e pela sua crueldade, não pode ser comparado a nenhum outro assassínio em massa. Não há explicação lógica para o massacre brutal de seis milhões de judeus, nem mesmo explicação teológica. Seria uma presunção enorme e uma maldade poder haver um “motivo” para a morte e a tortura de milhões de homens, mulheres e crianças inocentes.

Apesar de existir atualmente uma vasta literatura e pesquisas sociopsicológicas sobre os comportamentos e as atitudes durante a Shoá, o assunto continua transcendendo o raciocínio humano. As fontes do mal, nominalmente o hitlerismo, são muito variadas: a obediência cega à hierarquia, a procura do bode expiatório, que permite ao indivíduo acreditar que os seus problemas são solucionados responsabilizando o outro, a educação autoritária, cuja finalidade Hitler resumiu através da seguinte tirada: “Quero uma juventude brutal, destemida e cruel, que não cede nem à fraqueza, nem à doçura, e que a luz da presa brilhe nos seus olhos”. Porém tudo isso não explica as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo se o Satan reunisse todos os pecados da humanidade desde a Criação até hoje, não justificaria a matança de um milhão e meio de bebês e crianças.

Os fogos da Noite dos Cristais, seguidos pelas câmaras de gás de Auschwitz, e os crematórios de Maidanek, entre outros, foram produtos da teoria racial germânica. Os judeus, porém, mesmo nas piores circunstâncias, insistiram em conservar sua moralidade exemplar. É surpreendente como os israelitas, em condições sub-humanas, mantiveram seu semblante Divino brilhando. O Dr. Azriel Carlbach, editor do jornal israelense Maariv, escreveu o seguinte: “As vítimas do Holocausto não se tornaram santas pela sua morte, e sim foram santas durante sua vida. As cidades que foram destruídas encontravam-se num nível ético que nenhuma nação, em circunstâncias similares, poderia alcançar. Os nazistas não destruíram os guetos porque estes espalhavam tifo e outras doenças, mas porque, apesar de sua superlotação, irradiavam raios de luz e germes de santidade. Eles queimaram as casas judias porque elas fazem parte das poucas casas que uma nação construiu sem oprimir outra nação. Eles não mataram os judeus porque eram mais fracos do que eles, mas porque eram melhores do que eles”.

Passaram-se apenas 70 anos, e, por incrível que pareça, já existem movimentos revisionistas que tentam negar o Holocausto, além do recrudescimento do antissemitismo no Velho Continente. Pseudocientistas e pseudo-historiadores ousam destruir a história, divulgando pelo mundo, através das redes sociais e outros meios baratos de comunicação, que o Holocausto nunca existiu e que tudo isso não passaria de mentiras divulgadas por judeus e sionistas.

Nesta conjuntura atual, quando a memória e a consciência universal estão enfraquecendo, merece louvores a iniciativa das Professoras Maria Luiza Tucci Carneiro e Raquel Mizrahi, e sua equipe de pesquisadores do Arqshoah, de entrevistar e registrar os relatos de inúmeros sobreviventes do Holocausto, deixando um testemunho perpétuo e incontestável para a humanidade. São dignas de menção, também, as equipes da Editora Maayanot e do Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto, que entenderam que não basta um dia de lembrança do Holocausto por ano, mas que é preciso todos os dias do ano celebrar o fracasso do nazismo. São entrevistas como estas apresentadas neste livro que nos permitem refrescar nossa memória, fazendo-nos conhecer, infelizmente, os detalhes da vida cotidiana no inferno dos campos da morte.

É somente quando lemos estes relatos, ou assistimos as entrevistas filmadas, que podemos imaginar um pouco (uma fração mínima da realidade maior) o que os nossos antepassados sentiram na pele. Sem estes testemunhos, como saberíamos que os milhares de prisioneiros de Gunskirchen tinham apenas 20 latrinas à sua disposição, e que qualquer um que se aliviava em outro lugar era abatido pelos SS? Quem nos contaria que em muitos dos trens que iam para Buchenwald, abarrotados de centenas de judeus, apenas oito chegavam com vida? E que, certa vez, durante a viagem, um homem percebeu uma pequena estalactite de gelo no teto do vagão, subiu para morder um pedaço e desceu sem lábios? Como saberíamos a crueldade dos nazistas que amarravam as pernas das mulheres em trabalho de parto, para que elas morressem, junto com seus bebês, com sofrimentos atrozes? Quem nos revelaria que os soldados americanos, quando libertaram os campos, deram alimentos e cigarros aos esqueletos ambulantes, e estes comeram todos os cigarros, sem fumar um sequer.

A lista destes relatos é muito mais extensa e macabra, mas já é o suficiente para o leitor entender a importância desta nova série, “Vozes do Holocausto”, que transmite as histórias de vida de refugiados do nazismo que encontraram uma terra acolhedora no Brasil e aqui refizeram suas vidas.

Rogamos ao Todo-Poderoso que estas obras possam ser mais um tijolo na grande muralha protetora dos males que geram a intolerância, a xenofobia e o antissemitismo. Que a humanidade possa merecer, rapidamente em nossos dias, o cumprimento da profecia messiânica, de que “uma nação não levantará a espada contra outra nação, e não aprenderão mais a travar guerras” (Isaías 2:4), pois “a terra estará repleta do conhecimento Divino, como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:9).