Rubens Glasberg reúne em livro memórias de uma geração que vivenciou o Holocausto

Nos terríveis anos do nazismo, Elisa Klinger e Hans Glasberg se conheceram num navio, a caminho do Brasil. Eles são dois dos milhares de judeus que compreenderam a extensão do perigo que corriam na Europa e não mediram esforços para sair do continente. Ela portava uma das centenas de vistos diplomáticos que o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas concedeu para salvar vidas, contrariando diretrizes do Estado Novo; ele era uma das centenas de judeus salvos pelo acordo celebrado entre o governo brasileiro e o Vaticano para acolhimento no Brasil dos chamados “católicos não-arianos”.

No livro “Os indesejados: uma história de refugiados no tempo do nazismo” (Editora Terceiro Nome), o jornalista Rubens Glasberg fez mais do que apenas reproduzir a história dos seus pais, a partir do relato de sua mãe. Às memórias da família ele somou uma pesquisa de fôlego e a inseriu no contexto dos acontecimentos que marcaram a Europa no começo do século XX e culminaram no Holocausto. Mostrou o Velho Mundo desmoronando e sendo reorganizado com a força bruta da barbárie nazista; ressaltou o que o ser humano tem de pior, mas também a dignidade e a generosidade de muitos.
Para o autor, é possível traçar alguns paralelos com os dias atuais, como com o desemprego, o empobrecimento e a insegurança da chamada classe média temerosa de cair na escala social. “É um caldo de cultura para a discriminação racial e do imigrante, além dos demais preconceitos e ódios semelhantes aos do fascismo e nazismo dos anos 20 e 30 do século passado que resultaram no Holocausto”, afirma.
No caso do Brasil contemporâneo, o autor também vê semelhanças: “Ao analisar o colapso da IIIª República e o antissemitismo na França, vejo que a fraude processual do caso Dreyfus e suas consequências políticas têm aspectos comuns com o resultado das acusações e julgamento em Curitiba do ex-presidente Lula. Os dois episódios acabaram numa divisão irremediável da sociedade”, completa.

Trecho do prefácio de Fábio Kaufman
Professor de História da UFRRJ e autor de livros como Quixote nas trevas: o embaixador Souza Dantas e os refugiados do nazismo (2002), Imigrante ideal: o Ministério da Justiça e a entrada de estrangeiros no Brasil 1941-1945 (2012) e Raymundo Souza Dantas: o primeiro embaixador brasileiro negro (2021).

“Rubens Glasberg fez mais do que apenas reproduzir a história dos pais dele. Extremamente zeloso e fiel às fontes orais, não as publica de maneira acrítica. Aplica ao que recolheu o trato metodológico adequado, empreendendo uma pesquisa de fôlego, contextualizando e interpretando de maneira analítica o que registrou e escutou e fazendo, por fim, um trabalho de rara qualidade.
O autor dessa obra oferece aos leitores um livro de historiador e aos estudiosos do tema um trabalho de excelente nível. A publicação transcende em contribuição ao conjunto de registros de memória familiar que eventualmente são publicados. É um livro para figurar nas estantes junto aos bons livros de História”.

O autor
Jornalista há mais de 50 anos, Rubens Glasberg trabalhou em diferentes redações de São Paulo e em variadas funções. Foi editor Internacional no Estadão; de Política, na Folha; e de Informática, na revista Exame.

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