Pela primeira vez no mundo árabe, escolas marroquinas vão ensinar história e cultura judaicas

A história e a cultura judaicas logo farão parte do currículo escolar no Marrocos – uma “inovação” na região e no país do norte da África, onde o Islã é a religião oficial.

A decisão “tem o impacto de um tsunami”, disse Serge Berdugo, secretário-geral do Conselho das Comunidades Judaicas do Marrocos. “É a primeira vez no mundo árabe”.

Durante anos, embora o reino não tivesse nenhuma relação oficial com Israel, milhares de judeus de origem marroquina visitaram a terra de seus ancestrais, para celebrar datas religiosas ou fazer peregrinações, inclusive de Israel.

Mas o Marrocos se tornou o quarto país árabe desde agosto a anunciar um acordo mediado pelos EUA para normalizar as relações com Israel, seguindo os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que as representações que o Marrocos fechou em 2000 no início da Segunda Intifada, serão reabertas em Tel Aviv e Rabat, e as relações diplomáticas plenas serão estabelecidas “o mais rápido possível”.

O Marrocos confirmou o acordo, dizendo que o rei Mohammed VI disse ao presidente dos EUA, Donald Trump, que seu país concordou em estabelecer relações diplomáticas com Israel “o mais breve possível”.

A decisão de adicionar história e cultura judaica às aulas foi discretamente lançada antes do anúncio do acordo diplomático.

Parte de uma renovação contínua do currículo escolar do Marrocos desde 2014, as aulas serão incluídas a partir do próximo semestre para crianças no último ano do ensino fundamental, com 11 anos, disse o Ministério da Educação.

A mudança visa “destacar a identidade diversa do Marrocos”, de acordo com Fouad Chafiqi, chefe dos programas acadêmicos do ministério.

A comunidade judaica está presente no Marrocos desde a antiguidade e cresceu ao longo dos séculos, principalmente com a chegada de judeus expulsos da Espanha pelos reis católicos após 1492.

No final da década de 1940, os judeus marroquinos somavam cerca de 250.000 – cerca de 10% da população.

A grande maioria partiu após a criação do Estado de Israel em 1948, e a comunidade agora soma cerca de 3.000, ainda a maior do Norte da África.

A presença judaica na cultura marroquina agora aparece no currículo da educação social de nível primário, em uma seção dedicada ao sultão Sidi Mohammed Ben Abdellah, conhecido como Mohammed III.

O governante alauita do século 18 escolheu o porto de Mogador e sua fortaleza, construída pelos colonos portugueses, para estabelecer a cidade costeira de Essaouira.

Sob sua liderança, o centro diplomático e comercial tornou-se a única cidade no mundo islâmico com uma população de maioria judaica, e a certa altura tinha 37 sinagogas.

“Embora houvesse uma presença judaica no Marrocos antes do século 18, os únicos registros históricos confiáveis datam dessa época”, disse Chafiqi.

Duas associações judaicas sediadas nos EUA – a Federação Sefaradita Americana (ASF) e a Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas (COP) – disseram que “trabalharam em estreita colaboração com o Reino de Marrocos e a comunidade judaica marroquina” no trabalho acadêmico “inovador”.

“Garantir que os alunos marroquinos aprendam sobre a totalidade de sua orgulhosa história de tolerância, incluindo o filo-semitismo do Marrocos, é uma vacina contra o extremismo”, disseram os líderes das duas organizações em comunicado publicado no Twitter no mês passado.

Fonte: Conib