Já viu a nova série israelense? Milhões de pessoas sim.

Artigo de Renato Ochman, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Israel: Israel tem despontado como uma potência televisiva globalmente
Cada vez mais tenho sido abordado por amigos e clientes que acabaram de assistir a uma série ou filme israelense e são unânimes em me aconselhar: não deixe de ver! Talvez você, leitor, também tenha sido impactado recentemente por alguma produção audiovisual israelense. Apesar de ser um país jovem (fundado em 1948) e pequeno, com pouco mais de 8 milhões de habitantes, Israel tem despontado como uma potência televisiva globalmente. O país, que conta com apenas cinco canais de TV e uma centena de produtoras independentes, desenvolveu uma vigorosa indústria cinematográfica com produções competindo – e vencendo – premiações internacionais. Por ano, são 2,5 milhões de pessoas consumindo filmes e séries israelenses e hoje o país já conta com 10 escolas de cinema e é sede de 7 festivais internacionais. Qual o segredo desse sucesso por trás das câmeras?

As razões são a combinação na medida certa de alguns fatores. A tradição literária dos israelenses, vencedores de muitos Nobel de Literatura e terra natal de grandes escritores modernos, como Amoz Oz e Yuval Harari, é um ponto de partida. E, assim como nos livros, as histórias contadas por israelenses chamam a atenção por revelar conflitos universais do homem: amor, guerra, religião, família, entre outros. Na última década, mais de 10 filmes israelenses foram indicados ao Oscar ou à Palma de Ouro do Festival de Cannes, incluindo “Ajami” (2010), “Waltz with Bashir” (2009) e “Beaufort” (2008).

O sucesso da indústria cinematográfica israelense tem se tornado uma importante fonte de divisas para o país, com cada vez mais produções internacionais e co-produções sendo realizadas. O governo estimula a atividade por intermédio da Israel Film Center, uma divisão do Ministério da Indústria, Comércio e Trabalho, que garante aos produtores nacionais e estrangeiros acesso a serviços, contatos profissionais e incentivos financeiros.

Para nós, brasileiros, têm sido uma novidade assistir cada vez mais filmes e séries faladas em hebraico, mas os israelenses já estão mais acostumados com a nossa dramaturgia. Outro dia estava assistindo uma live do Tony Ramos conversando com o rabino Michel Schlesinger, e o famoso ator contou emocionado como ele foi reconhecido por centenas de pessoas em um jantar em Tel Aviv. Resultado do sucesso da novela Belíssima, em que Tony vivia o personagem grego Nikos Petrakis. O Clone, Avenida Brasil e A Vida da Gente também estão entre os grandes sucessos brasileiros dublados para o hebraico.

Já as produções israelenses focadas em ação, que trazem bastidores dos conflitos no Oriente Médio e focam nos indivíduos em meio às operações militares e missões secretas, são um grande sucesso de público. Todos parecem ter curiosidade de ver de perto o trabalho do Mossad, o serviço secreto israelense, e conhecer um pouco mais do aspecto militar da vida em Israel. De vários exemplos, destacaria Fauda, do Netflix, que conquistou inclusive audiência entre os palestinos, e a recente Hit & Run. Para quem é fã de Homeland, também vale contar que a história vencedora do Globo de Ouro é baseada na israelense Hatufim (Prisioneiros de Guerra, na tradução do título internacional), que estreou em Israel em 2010 contando a saga de dois soldados que se readaptam à vida em sociedade depois de 17 anos detidos em uma prisão secreta.

Um outro elemento de sucesso das produções israelenses é desvendar a rotina das comunidades judaicas ultraortodoxas. Os recentes sucessos de Shtisel e Nada Ortodoxa (ambos no Netflix) revelam que uma história bem contada ultrapassa as fronteiras nacionais. Uma das produtoras de Shtisel, Dikla Barkai, falou sobre isso em entrevista recente à imprensa israelense: que esperava os tapetes vermelhos nos festivais, mas ficou surpresa com a repercussão mundial da série. Já o filme Nada Ortodoxa, protagonizado pela jovem atriz revelação Shira Haas, também foi aclamado pela crítica internacional e recebeu diversas indicações ao Emmy do ano passado, levando a estatueta de melhor direção.

Assim como as companhias de tecnologia de ponta fizeram no início dos anos 2000, as TVs e produtoras israelenses estão descobrindo como usar um recurso amplamente disponível e inesgotável: a criatividade. Ela é o principal ingrediente para a produção de filmes e séries que conquistam cada vez mais audiência em todo o mundo.

Fonte original: https://epocanegocios.globo.com/colunas/noticia/2021/08/ja-viu-nova-serie-israelense-na-tv-milhoes-de-pessoas-sim.html