Giselle Beiguelman realiza exposição no Museu Judaico/SP

Na mostra “Botannica Tirannica”, a artista e pesquisadora revela os preconceitos na nomenclatura botânica, propondo uma investigação estética e conceitual a respeito do imaginário colonialista presente no processo de nomeação da natureza, cujas espécies de plantas ditas “daninhas”, recebem nomes ofensivos, preconceituosos e misóginos, como “judeu errante”, “orelha-de-judeu”, “maria-sem-vergonha”, “bunda-de-mulata”, entre outros.

A mesma lógica se observa em nomes científicos, entre os quais são comuns palavras como virginica, virginicum e virgianiana para designar flores brancas; e Kaffir, uma palavra que é altamente ofensiva aos negros e considerada na África subsaariana um equivalente da palavra “nigger” que se convencionou chamar N-word, pelo grau de violência social que carrega.

Um dos ícones da exposição é a planta popular “Judeu errante” (“Tradescantia zebrina”), título de uma narrativa medieval que foi um dos baluartes da propaganda nazista e que tem o mesmo nome em várias línguas, como alemão, francês e inglês, sendo uma das muitas expressões depreciativas usadas contra os judeus.

Para Giselle, “a botânica clássica antropomorfiza o mundo vegetal e faz das plantas um espelho do homem. O modo como se nomeia o mundo é o modo como se criam as divisões, os preconceitos, e se consolida o pensamento binário. A nomenclatura é um ritual de apagamento”.

A curadora da mostra, a crítica e pesquisadora Ilana Feldman, afirma que “Giselle Beiguelman é uma criadora de imagens dedicada a pensar a natureza das próprias imagens na contemporaneidade, mobilizando de maneira crítica, imprevista e inventiva a relação entre estética e política, arte e tecnologia”.

A mostra, que reúne imagens e vídeos produzidos com Inteligência Artificial, poderá ser visitada de 28 de maio a 18 de setembro.

Crédito da foto: Denise Andrade