Filme na Netflix conta o êxodo dos judeus etíopes para Israel

Uma das missões mais ousadas da agência de inteligência israelense – o Mossad – está sendo contada em filme: “Red Sea Diving Resort”. Foi uma das operações mais complexas e de longa duração para salvar a vida de judeus etíopes nos anos de 1980. Mas só agora, 37 anos depois, a história de um resort às margens do Mar Vermelho, administrado pela agência israelense, é revelada em filme.

A “Operação Irmãos”, que durou mais de três anos no início dos anos 80, foi uma missão de tirar o fôlego. No seu coração estava o Arous Holiday Village, um pequeno resort na praia que funcionava como “centro de recreação de mergulho e deserto do Sudão”. O anúncio da Arous oferecia uma combinação de vistas do deserto, praias arenosas e recifes de corais, incluindo mergulhos ao longo da costa leste africana para os entusiastas do mergulho explorarem. Mas o que o anúncio não dizia é que no local funcionava uma agência israelense, cujos agentes visitavam os campos de refugiados do Sudão com caminhões, os carregavam com judeus etíopes (“Beta Israel”, como eram chamados), para embarcá-los para Israel.

Se isso parecia enredo de um filme Hollywood… bem, agora é. Décadas após os detalhes sobre a história terem sido revelados, o co-criador de “Homeland”, Gideon Raff, escreveu e dirigiu “Red Sea Diving Resort”, inspirado em episódios reais que ocorreram entre 1981 e 1985. As cenas foram filmadas na África do Sul e na Namíbia no ano passado e o filme foi estrelado por Chris Evans, Haley Bennett e Ben Kingsley.

Ninguém ficou mais surpreso com o interesse na história do que Gad Shimron, que desempenhou um papel fundamental na criação e execução do resort às margens do Mar vermelho. Embora partes da história tenham sido omitidas ao longo dos anos, o livro de 1997 de Shimron, “Mossad Exodus; O ousado resgate secreto da tribo judaica perdida”, foi o primeiro a detalhar os acontecimentos em Arous.

“Estou muito feliz que a história tenha sido revivida e trazida de volta”, disse Shimron ao Haaretz, observando que certamente foi o seu livro que inspirou Raff para contar a história.

O livro de Shimron parece um romance de espionagem, em que os protagonistas escapam em ações rápidas e inteligentes. A trajetória de carreira de Shimron combinando passagens no Mossad e anos de jornalismo cobrindo ações militares facilitaram o seu relato.

“Foi a experiência de uma vida”, reflete ele. “Tanta coisa aconteceu: fomos baleados; fui preso e interrogado pela segurança sudanesa. Mas, graças a Deus, ninguém foi morto ou gravemente ferido. Mas as operações para retirar os refugiados eram realmente muito perigosas”.

Muito perigoso, na verdade. Tal como a época em março de 1982, quando os israelenses foram atacados por uma unidade militar sudanesa que os seguiu e sua “carga humana” em direção à praia, acreditando que eles eram contrabandistas. Shimron conta que a emboscada aconteceu quando tiros passaram sobre suas cabeças e um dos israelenses começou a gritar com o oficial sudanês responsável. “O que você está fazendo, seu tolo? Você está atirando em turistas?”, disse ameaçando reclamar para o chefe de gabinete sudanês, a quem ele mencionou pelo nome. E continuou: “Não podemos admitir isso. Nós trabalhamos para o Ministério do Turismo, trazendo turistas de todo o mundo para mostrar a beleza do Sudão, e tudo que tolos podem fazer é atirar em nós?!”

A tática funcionou e o oficial gaguejou um pedido de desculpas, mas isso acabou sendo o fim das operações de resgate marítimo. Depois disso, do verão de 1982 até o outono de 1984, aconteceram pequenos transportes aéreos. Ao todo, havia 17 transportes aéreos separados em que aviões pousaram no aeródromo no deserto e decolaram com os judeus etíopes – em ações coordenadas e executadas pela equipe de Arous.