Documentário exibe áudios inéditos de Eichmann

Líder nazista diz nas gravações de 1957 que não se importava se os judeus que ele mandava para Auschwitz “vivessem ou morressem”.

Em 1961, o depoimento de Adolf Eichmann, um dos principais orquestradores do nazismo, chocou o mundo em seu julgamento, com os testemunhos dos sobreviventes do Holocausto, e todo horror vivido por eles durante a Segunda Guerra Mundial. Agora, uma série documental israelense exibe áudios do nazista, em sua própria voz.

“A confissão do diabo: as fitas perdidas de Eichmann”, apresenta depoimentos do nazista, em alemão, falando atrocidades. “Se tivéssemos matado 10 milhões de judeus, eu diria com satisfação: ‘Bom, destruímos um inimigo.’ Então teríamos cumprido nossa missão”.

Ele falou ainda que os judeus tinham que trabalhar, e os que não estavam aptos a fazer isso deveriam ser enviados para a “solução final”, uma forma de se referir ao extermínio da comunidade judaica. Além disso, ainda comparou a natureza com a dos judeus com a das moscas.

Eichmann foi o único dos líderes nazistas a ser julgado em Jerusalém. Mesmo antes de ser exterminado, negava ser culpado pela morte de milhões de judeus. Ele alegava ser apenas um funcionário, cumprindo ordens. Mais tarde, seus depoimentos deram origem à teoria da banalidade do mal, da filósofa Hannah Arendt.

As gravações foram feitas em 1957, na Argentina, por Willem Sassen, um jornalista holandês e oficial nazista durante a Segunda Guerra Mundial. O objetivo era publicar um livro posteriormente. Ele e Eichmann faziam parte de um grupo de fugitivos nazistas em Buenos Aires, onde se encontravam esporadicamente para beber.

Após a captura de Eichmann pelos israelenses, Sassen vendeu as transcrições para a revista “Life”, que publicou um trecho resumido. Depois, as fitas foram vendidas para uma editora europeia, e em seguida para uma empresa que quis permanecer anônima, e que as colocou nos arquivos federais alemães em Koblenz, com instruções de que deveriam ser usadas apenas para pesquisas acadêmicas.

Há mais de duas décadas, o governo alemão divulgou apenas alguns minutos do áudio para o grande público. Agora, os proprietários das fitas decidiram dar acesso completo a cineastas, incluindo Yariv Mozer, diretor da série e neto de sobreviventes do Holocausto. Ao todo, Sassen gravou 70 horas de material, mas só restaram 15.

Além dos depoimentos de Eichmann, o documentário exibe encenações de encontros de simpatizantes do nazismo em 1957, em Buenos Aires, imagens de arquivo e entrevistas com participantes sobreviventes do julgamento.

Fonte: Veja