Cresce número de roubo de objetos nazistas na Europa

Nos últimos anos, o mundo tem observado um aumento no número de roubos e falsificações de objetos nazistas. Agora, os olhos se voltam para a Holanda e a Dinamarca, onde uma série de casos recentes provocou alerta.

Em agosto de 2020, seis pessoas invadiram o Eyewitness Museum na cidade de Beek, no sul da Holanda, roubando objetos nazistas e causando danos no valor de cerca de 1,5 milhão de euros. O ato levou seis minutos.

Um roubo semelhante ocorreu em outubro no Museu da Guerra em Ossendrecht, perto da fronteira da Holanda com a Bélgica, onde ladrões roubaram vários manequins da exposição que trajavam uniformes e armas históricos. Os danos, neste caso, são calculados em cerca de 1 milhão de euros.

Em novembro, foram roubadas 20 peças do Museu Alemão de Nordschleswig em Sønderborg, na Dinamarca. Um comunicado do museu informou que os ladrões visaram claramente “objetos que lançam luz sobre o passado nazista da minoria alemã da região. Eles visaram sobretudo vários uniformes. Tais uniformes são tidos como troféus cobiçados e valiosos em certos círculos de colecionadores, o que poderia ser um possível motivo para o assalto”.

Ainda não está claro se há uma ligação entre os recentes roubos na Holanda e na Dinamarca. Mas uma coisa é certa: objetos devocionais nazistas estão em alta hoje em dia. A plataforma de mercado de artes online artnet relatou que, devido à demanda crescente, falsificações de itens nazistas também têm se tornado cada vez mais comuns. Um leiloeiro contou que réplicas e falsificações estavam sendo fabricadas em grande escala em lugares tão distintos como Bulgária, Polônia, Ucrânia e até mesmo o Paquistão com tal precisão que até mesmo especialistas podiam ser inicialmente enganados.

Um dos exemplos mais notáveis foi observado durante os preparativos para uma exposição sobre o Holocausto em Buenos Aires, onde se descobriu que a maioria dos objetos não eram originais.

Entre os itens de colecionadores mais procurados da era nazista estão uniformes, capacetes, ordens militares de mérito, adagas, bem como itens pessoais pertencentes a oficiais de alto escalão ou membros nazistas. Tais objetos são capazes de obter preços elevados em leilões.

Especialistas observaram um aumento no interesse por objetos da era nazista na última década. Arnd Bauerkämper, professor de história dos séculos 19 e 20 na Universidade Livre de Berlim e especialista em história nazista, é um deles.

Na opinião do historiador, há três tipos diferentes de motivação em jogo: um certo fascínio pelo nazismo, uma abordagem cada vez mais distanciada e lúdica das questões nazistas e o aspecto comercial.

“Esses são os motivos demonstrados pelas pessoas que cometem tais atos. Mas também é preciso olhar para o outro lado: quem cria a demanda por esses itens? É aqui que encontramos um grupo de pessoas que exibem tendências extremistas de direita. Ao mesmo tempo, também encontramos algumas pessoas que não têm motivação política, mas são fascinadas pelo nazismo”, diz Baukämper, acrescentando que tal fascínio e fetichização da época só é possível quando se cria um grande distanciamento entre o presente e os eventos do passado.

E é esse intervalo de tempo crescente entre o agora e a era nazista, com a morte das últimas testemunhas oculares vivas, que preocupa Baukämper: “Esse distanciamento histórico desempenha um grande papel; basta pensar na fantasia do príncipe Harry como [o general nazista] Rommel. Havia algo divertidamente inofensivo nisso”, disse o pesquisador, referindo-se à gafe de 2005 quando Harry, um dos sucessores britânicos ao trono – então com 20 anos – vestiu um uniforme nazista. Mais tarde, ele se desculpou pelo ato.

No entanto, também existem aqueles que compram objetos devocionais nazistas para tirá-los de circulação, a fim de que não caiam em mãos erradas. Em 2019, por exemplo, o empresário libanês Abdallah Chatila comprou pertences pessoais da propriedade de Adolf Hitler para doá-los ao memorial do Holocausto israelense central, Yad Vashem.