Cinco livros de sobreviventes do Holocausto

Durante as décadas que se seguiram às atrocidades do nazismo, sobreviventes do Holocausto colocaram suas memórias no papel para que o mundo tomasse conhecimento, na esperança de que a tragédia nunca se repita.

Confira cinco destes livros:

“É Isto Um Homem?” – Publicado originalmente em 1947, rememora os onze meses que o escritor italiano Primo Levi passou em Auschwitz, na Polônia, o campo de concentração mais temido do Terceiro Reich. Membro de uma família judia de Turim, Levi juntou-se ao movimento de resistência italiano depois da ocupação nazista, e acabou detido e enviado ao campo de extermínio em fevereiro de 1944, quando sua ascendência judia foi revelada. Lá, viu de perto os horrores da guerra e da maldade humana, enquanto lutava para sobreviver em um lugar onde a expectativa de vida – se é que se pode chamar assim o que se passava ali – era de apenas três meses. Libertado em 1945, Levi colocou suas memórias no papel um ano depois do retorno à itália. No relato em primeira pessoa, em estilo irretocável, ele reflete sobre a fragilidade da vida humana e o projeto essencial dos campos de concentração, “a demolição do homem”.

“Noite” – Laureado com um Nobel da Paz em 1986, o romeno Elie Wiesel tinha apenas 14 anos quando foi enviado junto com a família para Auschwitz, e depois para Buchenwald, no início dos anos 1940. Na época, seu país estava sob o regime autoritário de Ion Antonescu, aliado de Hitler que promovia um verdadeiro massacre de judeus e ciganos. Wiesel sobreviveu para contar a história, mas viu os pais e a irmã caçula serem exterminados no caminho. No relato curto, lançado em 1956, ele revive as memórias doloridas de quem viu a morte de perto, dividiu espaço com corpos humanos e sofreu a dor da perda. A narrativa embrulha o estômago por escancarar o status de “subhumanos” com que os judeus foram tratados pelo regime nazista.

“A Bailarina de Auschwitz” – Bailarina e ginasta profissional, Edith Eger teve a carreira interrompida aos 16 anos, quando foi enviada para Auschwitz. No campo, viu os pais serem exterminados na câmera de gás e foi forçada a servir de entretenimento ao sádico Josef Mengele, médico que ficou conhecido como “o anjo da morte”. Enquanto dançava para o carrasco, imaginava-se no palco de uma ópera em Budapeste, enquanto o algoz especulava em voz alta sobre qual bailarina seria assassinada. Ao final da guerra, foi deixada com a irmã em uma pilha de corpos, doente e subnutrida, mas foi resgatada por soldados americanos. O livro é comovente, e se diferencia de outros relatos pelo bom humor da protagonista, uma tática de sobrevivência que lhe rendeu o apelido de “A Anne Frank que sobreviveu”.

“Maus” – Escrito entre 1980 e 1991, é um relato de sobrevivência indireto: Art Spiegelman narra nos quadrinhos os horrores do nazismo a partir de entrevistas com seu pai, Vladek Spiegelman, judeu polonês que passou pelas atrocidades de Auschwitz. O clássico dos quadrinhos foi publicado em duas partes, a primeira em 1986 e a segunda, em 1991. No ano seguinte, foi prestigiado com o Pulitzer, consolidando-se como uma referência no gênero. Na história tocante, os judeus são retratados como ratos, poloneses não-judeus são porcos e americanos, cachorros. Mas não se engane pelo formato de gibi: a obra não tem nada de infantil – em vez disso, usa do artifício para retratar a guerra com um relato cru e perturbador dos horrores infligido por humanos contra humanos.

“Última parada: Auschwitz” – Conta a história de Eddy De Wind, um médico enviado a Auschwitz em 1943, junto de sua esposa. Perto do final da Guerra, os russos conseguem se aproximar de Auschwitz, e os nazistas enviam seus prisioneiros em expedições a pé até a Itália que ficaram conhecidas como “marchas da morte”. Wind, porém, conseguiu se esconder nos campos, e começou a relatar sua rotina enquanto aguardava socorro, descrevendo em detalhes os horrores que presenciou e ouviu dos companheiros de cárcere – inclusive da própria mulher, enfermeira destinada à área em que o sádico Mengele fazia experimentos com humanos.

Fonte: revista Veja