“Champions League”: Ajax e Tottenham valorizam raízes judaicas e lutam contra o preconceito



Ajax, Tottenham, Barcelona e Liverpool. Dos quatro times que estão na semifinal da “Champions League”, os dois primeiros têm uma característica em comum: possuem uma forte identificação com a comunidade judaica.

A relação do Tottenham com a comunidade judaica começou com a chegada de judeus na Inglaterra no século XIX. Esta migração se deu por conta da perseguição sofrida no Império Russo, e aqueles que chegaram ao novo país buscaram um time para torcer. Em um primeiro momento instalados em East End, notaram que os torcedores do West Ham, clube da região, não eram muito receptivos aos judeus. Na época, o Tottenham ostentava o glamour de ter conquistado a Copa da Inglaterra (1900/1901)e ganhou a simpatia dos novos habitantes de Londres.

Mais tarde, as novas gerações de judeus se mudaram para bairros mais pobres e pararam no norte de Londres, casa dos Spurs. Mesmo com a presença também do Arsenal, a maioria da comunidade judaica local preferiu a equipe que hoje tem Harry Kane como uma de suas estrelas. Ao longo da sua história, o Tottenham teve jogadores e treinadores judeus, como David Pleat. Sem contar Daniel Levy, empresário e atual presidente do clube. Por conta deste histórico, a torcida do Tottenham assumiu o rótulo de “clube de judeus”. Bandeirões com a estrela de Davi colorem as arquibancadas, e o apelido “Exército Yid”, contendo uma palavra ofensiva e pejorativa, foi incorporado à rotina até como forma de combater o antissemitismo e o preconceito. Sim, o clube londrino e seus fãs passaram a ser alvos de comportamento discriminatório.

Na Holanda não é diferente. A torcida do Ajax também tem raízes judaicas, tanto que alguns torcedores seguem o mesmo ritual de levar ao estádio uma bandeira de Israel, demonstrando o orgulho dos torcedores às suas origens. No país, casos de racismo e intolerância religiosa envolvendo o futebol também ficaram famosos, principalmente na relação com o Feyenoord. Alguns de seus torcedores são conhecidos pela violência e por cânticos preconceituosos contra atletas e equipes rivais. E isso levou a federação local a tomar medidas drásticas, proibindo visitantes em clássicos entre os dois times. “Hamas! Hamas! Judeus para o gás”, gritam os torcedores do Feyenoord regularmente quando enfrentam o Ajax.

Antes da Segunda Guerra Mundial, Amsterdã era chamada de “Jerusalém do Ocidente”, pois cerca de 80.000 viviam ali, e muitos eram fãs do Ajax. O De Meer Stadion, estádio em que o clube jogou de 1935 a 1996, ficava no leste da cidade, local de moradia da maioria da comunidade judaica. Alguns presidentes judeus já passaram pelo comando do clube: Jaap van Prag (de 1964 a 1978), seu filho Michael (1989 a 2003) e Uri Coronel (2008 a 2011). Entre os jogadores, eram judeus Eddy Hamel (jogou de 1922-1930), Johnny Roeg (1934-1936) Bennie Muller (1958-1970), Sjaak Swart (1956-1973) e Daniël de Ridder (2004-2005). Uma coisa é certa: um dos dois estará na final da Champions. E, muito provavelmente, valorizando ainda mais as suas origens.

Fonte: 90min / Fábio Utz Iasnogrodski